19 de janeiro de 2007

AMAR SE APRENDE AMANDO.

AMAR CY APRENDE AMANDO?

A MARCYA PRENDE AMANDO...

AMAR CY APRENDE A MANDO!

AMARCYAPRENDEAMANDO

HÁ MAR. SE HÁ, PRENDE, A MANDO.

16 de janeiro de 2007

SITCOM

Título: Probóscida

Sinopse: Mulher de 36 anos, que vive só com um gato fêmea e trabalha num segundo subsolo sem janelas, compartilha suas lamúrias com o mundo escrevendo um blog.

Personagens fixos: a Marcya, o Gato, o Espelho, a Outra, o Monstro da Lagoa Negra, a Mulher Invisível, o Laptop, o Telefone, a Tevê, O Sapo.

Personagens extras: a Maíra, a Fabiana, a Ana Laura, o Tião e o Anônimo.

Episódio 1: Um Dia Surpreendente

Escaleta:
01- Marcya acorda, às seis da manhã, com uma lambida de lixa na cara.
02- Marcya se senta, de chinelos e pijamas, diante da Tevê desligada.
03- Marcya coloca o Laptop no colo e o liga.
04- O Gato digita algumas palavras em sua língua.
05- Enquanto o Laptop tenta ressuscitar, Marcya, apesar de atéia, reza para chover e não precisar ir caminhar no parque.
06- Marcya checa o Telefone mudo a cada cinco minutos.
07- Marcya ensaia a dança da chuva.
08- O Monstro da Lagoa Negra manda um abraço apertado pelo Orkut.
09- Ironicamente, a Mulher Invisível aparece.
10- Marcya consulta a previsão do tempo para hoje.
11- A Outra prepara salmão com alcaparras para um.
12- O afghan hound da Outra troca uma idéia veemente com o Gato.
13- Não vai chover hoje, diz o meteorologista na internet.
14- Marcya coloca roupa de fazer exercícios e vai conversar com seu personal stylist, o Espelho.
15- O Espelho dá uma gargalhada histérica, Marcya engole o Sapo e vai para o parque caminhar.
16- Chove.

FIM

Comentário de Maíra: Choveu? Pois a vida é feita de intempéries mesmo. Pegue um guarda-chuva, dance muuuuito nessa água toda e transforme essa enchente num musical badalado! Beijossssss!

Comentário de Fabiana: Concordo. Esse seu Espelho é um histérico! E diz pro Monstro da Lagoa Negra que eu também mando um abraço... Adoro verde.

Comentário de Ana Laura: Marcynha, você não precisa mesmo de exercícios. Precisa de terapia!

Comentário de Tião: ó, marcya, desengole esse Sapo de uma vez que um engasgo desses a gente não cura só com tapinha nas costas não, viu?

Comentário de Anônimo: Teria o telefone dessa Outra aí, hein?

10 de janeiro de 2007

a caminhada

Eu acordo às sete da matina com uma lambida de lixa no cotovelo. Pisco, me reviro, olho o relógio de um celular, depois do outro (eles são dois), confirmo pelos solavancos do sol vindos das brechas da persiana, o despertador toca na seqüência, o corpo dói, o sono pesa, o edredom verde faz um apelo emocionado, nem acredito... Soneca! Não, soneca não. Se tiver soneca, já era. Adeus. Só amanhã. Levanta agora!

Levanto. Me arrasto até o banheiro. Que cara horrível. Tudo bem, é com essa mesmo que eu vou. Lavo o rosto com sabonete em gel para controlar oleosidade. Não adianta muito. Enxugo, quase piso no gato, que, por isso, resmunga. Resmungando também, rastejo até a cozinha, quase de quatro também. Pego uma caneca preta enorme, coloco duas colheres de sopa daquele troço caríssimo que comprei, cheio de vitaminas, proteínas, sais minerais e complementos alimentares importantes como o “exclusivo Prebio”. Completo o caldo com leite desnatado. Chego a comer uma banana! A culpa é uma boa amiga da vida saudável instantânea.

Armário. Gato espia lá de dentro. Fooora! Bermudinhas ciclista, tops pretos e brancos, pares de meias curtinhas, blusas coloridas de alcinha, muitos, muitos pêlos. Tá, um de cada. Sem os pêlos. Misturo tudo no liquidificador e mando deep inside. Calço os tênis e arremato o rabo-de-cavalo. Acho que ainda falta alguma coisa. Boné, óculos escuros, I-pod. Sei o que é. Meu espelho ainda não me viu assim.

Ai. O espelho me diz que estou ridícula vestida desse jeito. Aonde pensa que vai, criatura? Já é carnaval? A quem é que você quer enganar? Amanhã tudo termina. Amanhã você não continua. Isso não vai ter futuro. Nem me venha choramingar quando tiver desistido. E não diga que eu não avisei.

Cala a boca, espelho cretino. Vou começar a caminhada sim. Lá vou eu. Mais uma vez.

5 de janeiro de 2007

a artista

Estava na fila do supermercado meio vazio, folheando uma revista boba. Duas ou três tiazinhas conversavam, no caixa ao lado. De repente, ouço uma delas dizer:

- Olha essa moça aí. Parece uma artista.

Na mesma hora levantei a cabeça e olhei pra trás. Queria ver a artista. E o que exatamente isso poderia significar. Ninguém. Olhei para a direita. Um sujeito barrigudo de chinelos, com duas crianças. À esquerda, nada.

Ahn. Não tinha mais. Elas falavam de mim. A artista era eu.

Assim sem graça, voltei rapidamente à revista. Disfarcei: conferi o relógio, contei os pacotes no carrinho, guardei os óculos escuros, resmunguei baixinho que “essa fila não anda!” Foi daí que, bem devagar, tentando não ser percebida, olhei pra mim mesma, pra avaliar, dos pés aos ombros, que era até onde dava pra enxergar, afinal. Tênis pretos, saia jeans toda desfiada, camiseta preta desbotada.

Talvez eu já tivesse sido uma artista mais glamurosa. Ainda não sei qual era a idéia das tias. Mas pouco importa. Me vi artista de cinema, estrela dos anos 40, a piscar na tela, admirada por pipocas e olhos. A música orquestrada introduziu a seqüência.

A saia branca subiu às alturas na passagem pela calçada, deleite de brincadeira safada e quentinha. Para esfriar, mergulhei de maiô colorido e touca de flores, fazendo coreografia de caleidoscópio na piscina. Pulei de lá para dançar cheek to cheek com Fred Astaire, acompanhado de coro de objetos inanimados: cabides, cadeiras, vassouras, sei lá. Beijei languidamente Alain Delon, que desmanchou o francês no meu ouvido... Le prochain... O próximo! Acorda, moça. A fila anda...

Meu olhar entardeceu, nostalgiquinho... Quem sabe a artista que eu queria ser não aflora mesmo de vez em vez, quando estou mais distraída? Essa artista que me fará única, especial e desejada, a cada projeção da fita? É preciso procurar o glamour... Hoje quase aconteceu. E amanhã... Amanhã é um outro dia.