6 de outubro de 2010

dos vasos comunicantes

Acordei às 6h da manhã para ir ao dermatologista do outro lado da cidade. Cheguei lá às 7h15 e subi sozinha no elevador até o terceiro andar. No consultório, a atendente disse que meu nome não estava na lista, mas iria providenciar um encaixe. Esperei. Fui atendida às 7h55 e ainda fiquei mais vinte minutos aguardando um procedimento – o médico iria retirar uma bolinha minúscula que tinha aparecido debaixo do meu olho direito, há alguns anos. Apesar de ínfima, me chateava, a bolinha.

Depois que tudo terminou olhei para o relógio e apressei o passo. Queria chegar logo em casa. Apertei o botão do elevador. Entrei mas, menos de cinco segundos depois, a porta se abriu outra vez. Entrou um sujeito magrinho, de barbicha, com cara de office-boy da terceira idade. Dei um passo atrás. Ele se posicionou, calado.

O elevador desce, lentamente. Olho para o painel dos botões. Um visor marca a elevação da temperatura interna, de 28 para 29 graus.

“Que calor horrível está fazendo aqui dentro!” - pensei.

O painel acusa uma apertada estratégica de botões no primeiro andar. Vamos parando, mais devagar ainda, o que me leva a refletir, com os meus próprios botões.

“Já pensou ficarmos presos no elevador com esse calorão?”

O elevador para. A porta se abre.

Entra uma gordinha simpática, dessas sensuais, metida num tubinho preto e curto, de alcinhas. De cara, emplaca um sonoro

- Bom-dia!

Eu respondo.

- Bom-dia.

O office-boy continua mudo e imóvel.

O elevador desce.

- Que calor horrível está fazendo aqui dentro! – observa a gordinha.

Balancei a cabeça, achando graça.

- Já pensou ficarmos presos no elevador com esse calorão?

Eu sorri.

O elevador parou, descemos no térreo. Ela se precipitou, seguindo em natural disparada à minha frente. Quando olhei para trás, a porta estava se fechando novamente.

E o sujeito da barbicha ali. Parado.