27 de agosto de 2008

caos doméstico matutino

  • 7h30 - Despertador toca.
  • 7h40 - Despertador toca de novo. (Tá bom, já ouvi!)
  • 7h50- Vestir a roupa da academia. Arrumar a bolsa.
  • 8h05 - Tomar café.
  • 8h10 - Enfiar as gatas nas caixinhas.
  • 8h20 - Nova tentativa.
  • 8h25 - Jogar ração lá dentro.
  • 8h30 - Banho de Bibi e Lindinha no pet shop (hora marcada).
  • 8h45 - O pet shop ainda está fechado e eu estou esperando na porta com as duas gatas nas caixinhas, em miados altos.
  • 8h50 - Minha mãe me liga no celular pra dizer que a faxineira e o homem da capa do sofá não vão poder ir hoje. Nada do pet shop abrir.
  • 9h - O pet shop abre.
  • 9h - Horário da faxineira. CANCELADO (Putz, tenho um encontro romântico no sábado e uma pilha de louça suja na pia)...
  • 9h01 - Ligar para a faxineira e EXIGIR um horário antes de sábado.
  • 9h10 - Demitir a faxineira
  • 9h20 - Tentar achar outra faxineira.
  • 9h30 - Desistir de demitir a faxineira e perguntar educadamente se ela pode ir na sexta-feira caso eu pague o dobro.
  • 9h50 - Buscar as gatas cheirosinhas no pet shop.
  • 9h58 - Tentar fotografar as gatas com as fitinhas lilás no pescoço antes que elas arranquem tudo.
  • 10h - Prova da capa do sofá. CANCELADO
  • 10h01 - Ligar para o Procon.
  • 10h05 - Limpar as caquinhas antes que as gatas limpinhas pulem na areia suja.
  • 10h06 - Escovar a Bibi para tirar a areia suja.
  • 10h10 - Alguém trancou meu carro no estacionamento. BUZINAR bastante.
  • 10h20 - Aula de yoga.
  • 10h25 - Chegada à aula de yoga.
  • 10h26 - Esticar a esteira de yoga entre quatro pessoas de braços curtos.
  • 11h10 - Alguns hematomas depois, termina a aula de yoga.
  • 11h30 - Almoçar no self-service da esquina.
  • 11h55- Arrepender-se por não ter comido sobremesa. Correr pra casa.
  • 12h - O porteiro combinou comigo de fazer uns servicinhos com a furadeira lá em casa.
  • 12h10 - Fazer a lista dos furos necessários nas paredes.
  • 12h15 - O porteiro não apareceu até agora.
  • 12h30 - Me arrumar para o trabalho. Cadê o porteiro?!
  • 12h31 - Tomar banho. Escorreguei no tapete e dei uma topada na parede (sem furos).
  • 12h40 - Fazer curativo no dedão roxo.
  • 12h50 - Chamar o porteiro pelo interfone. (Ué... Ele foi almoçar...)
  • 13h19 - Xingar o porteiro.
  • 13h20 - Sair para o trabalho.
  • 13h23 - Gran finale: a chave do carro cai no poço do elevador...

19 de agosto de 2008

o urubu

Pra ninguém dizer que estou mentindo: foto do urubu original
Costumeira cena inicial do seriado: diante da tevê desligada com o laptop no colo, de chinelos e pijamas. O que não descrevi nesse cenário, é que em oposição a mim existe um janelão sempre aberto. Do sexto andar onde moro, mesmo sentada no sofá, dá pra ver a cobertura do prédio vizinho, que nada mais é que um terraço vazio e reto - até que vez ou outra pouse um pombo gordo, exaurido da subida.

Digitava com os olhos cravados na tela, mas sentia que um movimento estranho lá fora, tão alto, embaçava sutilmente a visão periférica. Não cheguei a atentar, a princípio. Mas depois de alguns dias, com a insistência da repetição, encafifada, finalmente levantei a cabeça para averiguar.

Incrível a fixação paranóica, ainda que despercebida, na tela do computador. Dias assim, sem prestar atenção a minha volta, não notei que pousava ali na minha frente, além dos pombos de praxe, um imenso urubu. A gente deve sempre esperar se surpreender na vida.

Confesso que a aparição foi extremamente desafiadora para meu léxico inventivo.

Urubua
Urubula
Urubola
Uruboa

Sei lá. É que o urubu parecia fêmea. Um animal jovem e bonito, de penas brilhantes e olhar meiguinho. Quem é que diz que isso come lixo?

O fato é que, de início, entrei numa neura de simbolismos alucinatórios. Lembrei de Joãozinho Trinta. De Maupassant e Alan Poe também. Quando olhava para o bicho, juro que quase esperava que ele me dissesse a qualquer momento: “nunca mais”...

Hoje não. Depois que me acostumei com a visita diária e passei a acompanhar seu desenvolvimento com o zelo de uma ama, chego a sentir falta quando ele não vem. Me apeguei, apesar dos gatos não gostarem muito. E agora mesmo, enquanto escrevo isso, o urubu está ali, descansado e satisfeito, tomando seu solzinho pousado na minha sorte.

16 de agosto de 2008

caquinhos



















"Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.
Sem uso, ela nos espia do aparador."

Carlos Drummond de Andrade

11 de agosto de 2008

sobre flexibilidade

Aproveitando as manifestações zen que começaram no post anterior.

Hoje, estava eu na aula de ioga, numa posição que chamaria de, no mínimo, não recomendável para pessoas que têm problemas de coluna. Fazia "o arado": deitada no chão, as pernas esticadas passam para trás por cima da cabeça, a ponta do nariz praticamente grudada no umbigo, a nuca inteira cravada no piso.

E, apesar de minha pouca flexibilidade, consigo fazer isso magistralmente. Sou até capaz de relaxar nessa postura incômoda e antinatural. Não sei bem o porquê disso. Mas o fato é que foi assim, nessa pose invertida, que tive uma breve iluminação.

Comecei a sentir um orgulho de mim mesma, uma satisfação pessoal de fazer isso tão bem quanto o professor - ou melhor que ele - que me levou a imaginar o quanto é bom ser flexível. Pensei também como era difícil para mim me virar no movimento contrário: quando a ordem era esticar para a frente, eu parava feito uma árvore no meio do caminho, dura, estática, travada, impossibilitada de encostar os dedos das mãos nos dos pés.

Por que sou tão vergável para algumas coisas e tão inflexível para outras?

E assim, nesse curtíssimo e estranho momento filosófico de minha existência, concluí que posso ser mais feliz quanto mais flexível puder ser. Em todos os aspectos da vida. É aquela velha história do bambu que se verga ao vento sem quebrar.

Vamos ver se isso dá certo.

10 de agosto de 2008

meditando

Hoje fui à quermesse do templo budista de Brasília.
E em vez de ficar na fila enorme do camarão empanado, resolvi ir meditar
(havia uma demonstração de vinte minutos da prática que é feita diariamente).

Preciso dizer que esses vinte minutos valeram
Muito mais que quaisquer outros vinte minutos
Em qualquer quermesse a que já fui na vida
(principalmente se tivesse passado esse tempo reclamando na fila do camarão).

Fiquei com o estômago vazio
E a alma cheia de fome.

7 de agosto de 2008

efeito borboleta

Foto de Fernanda Marques


Eu usava um chapéu de abas largas
Coisa que nunca faço!

Eu fui à cidadezinha de Passa Quatro
Mas não tinha estado lá antes!

Eu embarquei na Maria Fumaça
E fiz essa viagem pela primeira vez!

Pois nesse dia de tantas novidades,
veio a borboleta e pousou em mim

Na minha cabeça encoberta
Nas minhas idéias floridas
No meu coração descorado

E tantos viram e disseram
Que, mesmo sem tê-la visto,
Eu acreditei, feliz!

5 de agosto de 2008

o trovador

Ele fala assim mesmo, de verdade,
Como se viesse de um outro século, esquecido no passado.
Engraçado.
Cheio de sentimento, elucubra, suspira,
Volta-se com uma filosofada
E conclui um poema seu (ou de outro)
Cheio de aspas, itálicos e travessões rococós.

Eu pensei que fosse brincadeira de assim, recém-conhecer,
Que criança faz pra se mostrar pras visitas.
Mas não era não.

Eu troço com ele:
É um trovador, um poeta errante,
O paladino temporão de tempos que nunca viveu.
De um lirismo imaginado
Que só os bondes de Santa Tereza, os chapéus-coco, as tevês de válvula e as máquinas de escrever podem lembrar.
Ele, ri, me acha graça, de sua meninice inata e sincera.

Mas, depois de muitas cólicas de alegria, distrái-se outra vez no etéreo,
Reencontra Rocinante e Sancho Pança na curva da nuvem,
Chora pra mim todos os seus sonhos insustentáveis,
Todas as suas vontades de envolver a galáxia com os dedos mindinhos,
Todas as suas aflições infinitamente sem solução...

E termina por resolver algumas das minhas.
Estranhamente,
As mais palpáveis e solúveis.