12 de novembro de 2008

céu

Pulava em um só dos pés:
Um, dois, três...
Abaixava-me assim
E pegava a pedrinha
Sem pisar na linha!
Tudo vale, vale sim!
Vira e volta.
Joga longe!
Vai até o céu!
E, de lá, altas
As risadas das nuvens brancas
Brincando de ser bichinhos
Branqueavam de giz
As mãozinhas meninas
Que os leves pezinhos
Não pendiam nas linhas!
Mas se errar, me diz...
Vira e volta
Um, dois, três
Começa tudo outra vez...

4 de novembro de 2008

sobre o tempo que levam os sonhos

O gatinho pequeno está dormindo em cima da mesa do computador novo. Essa mesa que já foi de jantar, muito tempo atrás (talvez nem tanto assim). O computador é novo, mas o desejo de tê-lo é velho. Na verdade trata-se de uma ilha de edição, na qual eu poderei produzir, um dia, meus sonhos mais e mais longínquos ainda: os roteiros que escrevi, há anos. Para isso, comprei uma câmera de vídeo no ano passado – ótima, mas que logo estará ultrapassada, porque atualmente é preciso pouco tempo para isso -, um bom tripé, durante a viagem que fiz a Nova Iorque - sempre quis conhecer Nova Iorque mas tinha vergonha de dizer - e, principalmente, uma cadeira confortável para ficar horas e horas diante do Adobe Première (ou do Avid, que quero aprender a operar direito quando me sobrar um tempo). Aliás, tempo era o que mais havia no assento anterior do meu tão sonhado escritório – agora quase real. Eu me sentava numa cadeirinha delicada, talhada a mão, que foi da cozinha de minha avó, há algumas décadas. E antes disso, da mãe de minha avó. Era até um pecado – apesar de não me sentir mais ameaçada por pecados como me sentia quando criança – mas juro que só ficava trabalhando sobre essa relíquia por uma questão de praticidade: não tinha outro lugar para me sentar. E só aposentei a pobrezinha porque as costas doíam depois de muito tempo ali, envolvida com a informática. Aposentei não. Por questão de tradição, ela foi parar na minha cozinha, que nem é tão nova assim. Pensei que jamais fosse aprender a cozinhar. Demorou, mas consegui. Só que nunca me lembro de comprar conhaque para fazer crêpe Suzette. Quando eu era pequena ouvia esse nome e achava lindo... Sonhava com o dia em que iria prová-lo, apesar de não ter a menor idéia de como o doce era. E o que importa? Naquela época, na padaria onde eu podia gastar minha mesada, os sonhos nunca acabavam antes que eu provasse um. Já na vida não. Mas sou maníaca por doces até hoje. E talvez por esse motivo só tenha usado o computador novo para procurar receitas antigas e restaurar as fotos de minha avó. Enquanto gasto meu tempo, o gatinho pequeno vira-se. Ressona, ronrona, espreguiça. Ele é novo. Ainda tem todo o tempo do mundo. Mesmo que não saiba bem o que isso significa.