10 de agosto de 2007

pensamentos soltos (e presos)

Hoje já é dia 10. Mas nada está melhor por isso.

Acho que vou cortar o cabelo, que já vai lá pela linha da cintura agora. Pra que tanto cabelo?

Estou um pouco cansada.

A psicóloga um dia me disse que eu sou umas das únicas pacientes que toda a semana, invariavelmente, têm uma boa história pra contar. Gosto das minhas histórias e de tê-las tantas. Felizes ou tristes, me fazem saber a vida, ter a consciência de que respiro. Na verdade, acho que talvez todos as tenham muitas mas, no automático, perdem o olhar diferente de percebê-las.

Sinto falta de algo que não consigo precisar direito o quê. Sei que tenho um vazio, um buraco no estômago... Acho que vou fazer uma endoscopia.

Brotou um cacho de flores no vaso da orquídea que eu pensei que nunca mais fosse florir.

O Gato está enamorado do tapete de vaca que comprei para a sala. É uma mistura de pêlos, cheiros e espécies que me fazem espirrar vez ou outra e imaginar gatos malhados. Ainda bem que comprei aquele aspirador de pó vermelho. O pó não, o aspirador.

Acho que esqueci de digitar o código...

Quero voltar a dançar sozinha na frente do espelho e me sentir feliz por isso, como contou a minha amiga Maíra, outro dia.

As minhas dívidas estão parceladas até fevereiro de 2008 nos cartões de crédito. As pessoas não deviam ter cartões de crédito. O mundo feito de cartões de crédito não é justo. Eu não quero mais gostar de cartões de crédito. Eu vou quebrar os meus cartões de crédito em pedaços. E depois chorar.

A moça que trabalha lá em casa se chama Calminha. É, Calminha é mesmo o nome dela, de verdade. Eu vi a carteira de identidade. Engraçado isso, principalmente se considerarmos que ela tem pressão alta. E o fato da Calminha trabalhar na minha casa, há anos e anos, todas as semanas, infelizmente, ainda não me acalmou em nada a vida.

Vou olhar se tem novidades nos outros blogs agora.

Tchau.

9 de agosto de 2007

atropelos

Eu nunca tinha sido atropelada na minha vida. E aconteceu hoje, pela primeira vez, justo hoje. É uma sensação muito estranha, entre todas as outras sensações muito estranhas que tive nesse dia de "contagem regressiva", como disse uma amiga: 09-08-07.

Tinha ido tirar um novo passaporte, no posto da Polícia Federal. O sistema saiu do ar, me atrasei. Fui atravessar a pista em frente ao aeroporto, o telefone tocou. Atendi, me distraí. Um sujeito engatou a ré no carro, nem viu, me acertou. Um outro até gritou "cuidado!", o que fez com que aquele parasse.

Não cheguei a cair – depois que comecei a fazer Pilates e Tae Fight ficou mais difícil me derrubar. Talvez tivesse sido melhor se eu me deixasse ir ao chão. Mas na hora não senti nada, nada. Só me recompus, reclamei com o motorista negligente e fui embora assim, apressada demais, porque tinha outro compromisso: filmar um nascimento. E nascimentos não esperam não.

Chegando ao meu carro estacionado, sentei-me e finalmente senti a pena da resistência física: a perna latejava. E chorei - chorei um bocado - não só pela dor da pancada, mas por todos os atropelos e desatropelos da minha vida, resumidos ali, em um só.

morte e vida

A girafinha estava pendurada. A cabecinha pendia com a língua de fora, roxa, as patas dianteiras balançavam pra lá e pra cá, querendo sair. Ela era maravilhosa! Até então, eu acreditava mesmo que estava tudo bem. E eu queria ver o tombo da vida, lá do alto das patas, aquele bichinho grande cambaleando no capim seco, molhado de líquidos do ventre da mãe. Queria o nascimento, a luz, a respiração, o calor. Mas a minha fé torta não foi suficiente – nunca é. Um vermelho terrível começou a brotar da boca e me fez chorar de novo. Não podia aceitar, num lindo dia de sol! Girafas não podem perder dias transbordantes de sol, como aqueles das savanas de África, que elas nunca mais vão ver (mas que eu vi). Não vai não, girafinha, a gente nem brincou ainda! Ela não respondeu. Apenas piscou os cílios enormes e sorriu. Ela sabe o que vou fazer. Ela sabe!

7 de agosto de 2007

balas e chocolates
















Sei que pode parecer lugar-comum. Talvez todo mundo ache isso de si mesmo. Mas, de verdade, às vezes penso que há coisas que só acontecem comigo.

Cena:

Dirijo o carro da minha mãe – que não tem ar-condicionado nem vidros escurecidos – de janelas abertas por causa do calor de torrar jacaré. Paro no semáforo fechado e muito demorado.
Vem o cara que distribui panfletos.
Obrigada.
Vem a moça que vende pano de prato.
Não, obrigada.
Vem o rapaz da associação beneficente com canetas na mão.
Não, não mesmo, obrigada.
Vem o cara das balas e chocolates. Para diante de mim e dá um passo pra trás, fazendo uma reverência.
Oooiii!
Não, moço, obrigada.
Eu não vou te vender nada não!
Não?
Eu-não-vou-estragar-essa-beleza-com-bala-que-engorda-e-chocolate-que-dá-espinha!
(Começo a rir)
Eusepudesseganhavanaloteriaefaziaumaplásticapraficarpelomenosumpoucobonitopratentarconquistarumaprincesacomovocê!
(Ele fala muito rápido, nem respira. Acho que é porque sabe que o sinal vai abrir a qualquer momento)
Seeupudessetedariatudonomundobeijariaseuspésmaseusouumcarafeiopobreduroenuncavoupoderchegarpertodeumamulhertãomaravilhosa!
(Só consigo gargalhar)
Lindadivinaespetáculodanaturezacomosolhosmaisbonitosqueeujávimasnãosãosóosolhosnãoparecequeétudotudinhomesmoondejáseviuumacoisadessas?
(Ele estica a mão pra mim. Automaticamente, retribuo. Ele beija a minha mão. O motorista do carro do lado começa a rir)
Nuncamaisvoulavaressamãoqueencostounumadeusafeitovocêquecaiudocéunaminhafrentealegrandoaminhavidaedandoluzpromeudia!
(Sorrio)
Olha, o sinal abriu. Obrigada por tudo, viu?
Eu é que agradeço por você existir, princesa.

Acelero o carro e atravesso a avenida comprida pensando em balas e chocolates.