13 de julho de 2009

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Eu estava simplesmente feliz e tranquila. A noite de domingo tinha me deixado com um gostinho de alegria de viver na boca, que me fazia ver passarinhos cantando e flores se abrindo pra todo lado. Uma coisa! Saí cedo para uma consulta médica que se demorou por uma longa hora na diminuta sala de espera – na companhia de quatro criancinhas correndo e berrando simultaneamente, diga-se – mas nem me importei muito. Tudo lindo e maravilhoso, ainda deu tempo de chegar em casa e trocar de roupa pra ir à aula de yoga sem pressa.

No trânsito, nenhum semáforo fechado. Ninguém me cortou pela direita. Não precisei xingar nem buzinar nem acelerar. Apenas o sol, a avenida livre, o ventinho no rosto, uma música que eu gosto começou a tocar no rádio... “O barquinho vai... A tardinha cai...”

Lá na sala da academia, tudo arrumadinho e cheiroso. Mandei um “namastê” com todo o gosto antes de iniciar a minha prática. Nunca me senti tão flexível e troquei a alcunha de Mulher Invisível pela de Mulher Elástico – ou Elástica? Coloquei delicadamente as palmas das mãos no chão sem dobrar os joelhos e minha felicidade incontida aflorou num sorrisinho de plena satisfação comigo mesma e com o mundo ao meu redor. Ásanas terminados, vamos deitar, fechar os olhinhos e meditar.

O mantra entrava pelos ouvidos apenas para reforçar a paz que eu já desfrutava. Que calma, que relaxamento, que plenitude, que ronco... É. Ronco.

Alguém dormiu durante a meditação. Por mim tudo bem, durma e sonhe, desde que não ronque tão alto... Um ronco dos mais horrorosos, similar a um porcão chafurdando na lama, rotundo, infalível, ritmado. No breve espaço de tempo em que brotou, eu já não conseguia pensar em mais nada. Aliás, duvido muito que qualquer criatura dotada de audição num raio de um quilômetro tenha escapado ilesa ao ronco-motosserra da aparentemente inofensiva tiazinha, escarrapachada de braços abertos no piso da sala.

Olhei discretamente para o lado e pensei que ela fosse morrer – eu podia até dar uma ajudazinha – arfando a barriga pra cima e pra baixo num terremoto interno que batia 12 na escala Richter (segundo a Wikipédia, magnitude capaz de “dividir a Terra ao meio”). Meditei profundamente sobre a hipótese de sufocá-la com o tapetinho. Mas logo vi que não seria suficiente. Alguém acorde essa criatura, por misericórdia!

A professora percebeu que a turma estava em sofrimento. E resolveu terminar logo com aquilo, antes que chamassem o pessoal dos Direitos Humanos. “Vamos levantar agora”... Acho que teve que cutucar a tia, que enfim acordou, inocente, limpando a babinha.

Voltei pra casa vociferando: ommmmmmmmmm...