17 de fevereiro de 2008

breve reaparição

(Basta um bom motivo para a vontade voltar)


cloverfield – outro monstro

Acordei tardia e confusa. Acabou o horário de verão, tinha três marcações diferentes nos relógios da casa: 8h35, 9h36 e 10h34. Escolhi uma delas, aleatoriamente, e fui tomar café. De qualquer jeito, estava com fome.

Poucas horas de enrolação e preguiça mais tarde, descobri que tinha sorteado a hora certa e resolvi ir ao cinema, para aproveitar um ingresso que ganhei de presente do cartão de crédito. Acho que ando gastando demais.

O nome do filme era “Cloverfielf – O Monstro”. Alguém tinha me dito que estavam propalando por aí que era o “máximo do pós-moderno”. Com toda a sinceridade, depois de assisti-lo atentamente, é forçoso fazer uma primordial advertência aos possíveis espectadores desavisados: não se entupa de comer antes de ir conferir o título.

Pelamordedeus, não vai encarar uma feijoada antes de “Cloverfield”. Isso é um perigo!

Confesso que comi uma pizza Hut pequenininha, individual, com massa pan. Não fiquei saciada, mas mesmo assim, lá pelos quinze primeiros minutos do “Monstro”, já estava me acabando de azia. Olhei para trás no final da projeção e tinha gente meio verde, como o protagonista, se recuperando para levantar da poltrona.

Se você ainda pretende ver o filme (depois de uma saladinha preferencialmente), é melhor parar por aqui.

Logo de cara, quando acaba o trailer e as luzes se apagam de verdade, fica todo mundo pensando que deu pau na projeção. Ouvi até uns comentários inocentes nesse sentido. Mas não foi nada disso.

Acontece que a fita, da Bad Robot, os mesmos produtores da aclamada série “Lost”, é toda rodada de dois pontos de vista básicos: uma câmera de telefone celular (com a melhor definição que eu já vi na vida) e outra câmera amadora, tipo MiniDV (com a melhor definição que eu já vi na vida).

A primeira aparece apenas no comecinho. A segunda, que domina a cena do resto do filme inteiro, é operada por um sujeito meio idiota, que nunca tinha filmado nada em sua inepta existência (que, aliás, terminaria definitivamente uma hora e meia depois).

O fato é que, esse cara, o Hud, sem a menor noção nem de ridículo, nem de privacidade, nem de enquadramento, se mete em tudo e, por isso mesmo, tem nas mãos o fio narrativo – e nossos frágeis estômagos também. Ele é o olho e a escada – e a indigestão. Afinal, Rob, o mocinho da história, precisa de alguém que documente seu heroísmo.

O tema em si é original: no melhor estilo Godzila detona Tóquio – não é à toa que um dos personagens principais ia se mudar para o Japão – uma criatura interplanetária gigante resolve destruir Nova Iorque... (Pensando na viagem que devo fazer em maio, a ânsia de vômito começou).

Balança, sacode, corre, chispa, joga, pula, cai, larga, segura, puxa, treme, grita, atira, desmaia, desaba, levanta, assusta, briga, jorra, sobe, desce. O filme quase todo é ação: os incautos em desespero total na escuridão da noite na cidade invadida.

Me senti dentro daquele brinquedo macabro do parque de diversões, que tem plaquinha de proibição para cardíacos na entrada e chacoalha você de cabeça pra baixo até as vísceras trocarem de lugar com o cérebro.

Bem, não vou contar o filme inteiro, não se preocupe, curioso. Duas mil sacudidas frenéticas depois, concluí que o mais interessante de “Cloverfield” é que no final, por sorte, dá tudo errado. Antigamente, Godzila voltava, mas no final nunca vencia! Agora... Quanta pós-modernidade... É o sinal dos tempos.

E por falar em tempo, nem sei mais que horas são, mas percebo que a minha azia vai ficar monstra. Droga de pizza.

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