15 de agosto de 2006

ruínas

Comecei a erguer uma casa.

De início, não tinha eu as maiores ambições. Queria apenas um lugar onde pudesse me saber feliz. Já morei em alguns diferentes espaços. Mas nenhum que eu chamasse verdadeiramente de lar. E sem nada mais a perder, num estranho segundo, comecei a construção.

Fazia tijolo, concreto armado, pau pra toda obra, madeira de lei, azulejo relevante, era vidro, pedra no sapato, dava na telha, parafusos a menos, ficava só o prego, martelava no dedo. O desalinhamento não veio junto, como eu temia. Subiu tudo numa rapidez de muito investimento.

E assim, sem querer, o que nasceu lugar para morar... Tinha virado um castelo. Com tantos cômodos aconchegantes, tantos vãos e voltam, escadas de caracol, salas imensas, claras varandas, quartos crescentes, jardins suspensos, fechaduras cheias de olhos, armários de C. S. Lewis, cantinhos a perder a conta, portas para outras dimensões, que às vezes desaparecia para me achar lá dentro. Encontrava cem janelas abertas para as nuvens e o sol. Veneza ou Kuala Lumpur. Para a máquina do tempo. Para as savanas africanas ou para uma lagoa dos Lençóis. Na minha própria casa.

Até que, numa noite sem chuva, de volta, cansada depois de um dia de trabalho... Ela não estava mais ali. A casa que eu levantei com carinho e suor foi mais uma vez ao chão, como todas as outras, com tudo o que eu amava lá dentro. Ruiu, e até hoje não sei bem se veio inteira abaixo ou se a demoliram sem pressa, às colherinhas de café sem açúcar.

Sei eu que as ruínas vão ficar, expostas e misteriosas, lindas e gratuitas, abertas à visitação pública. Ou até que reapareça, por fortuito que seja, o desejo de um dia as reconstruir.

2 comentários:

popfabi disse...

eu digo! mãos à obra! levarei meus tijolinhos, e até boas idéias de decoração.
o tempo, não se preocupe, há de ser toda a diferença nessa nova casa... é a velhice das coisas fica super aconchegante, né?

Princess Deluxxe disse...

que tal começar pintando as paredes?? vamos deixar das nossas bobagens e perceber q o mais importante mesmo é nos sentirmos bem... independente do qto isso custe ou se vai nos pertencer depois.
acho q é hora de viver o imediato, os desejos de agora.
já chegou seu sofá novo???
bjosssssssssss