
A múmia sou eu. Imóvel, enfaixada, inerte, parada, dura, seca, imutável, inflexível. Que saqueadores vão achar a minha tumba, para despertar-me depois de séculos de sono irresoluto? Não tem maldição. Só agradecimentos. A múmia quer acordar.
Os rituais dos antigos e os filmes de Hollywood já prenunciavam essa volta, sequiosa pela luz de Amon-Ra.
E eu, a múmia menina, cheirando a perfumes belíssimos e ornada de jóias de ouro e flores esculpidas, cercada de um séquito de estátuas de pedra, sonho com lá fora.
Anubis faz caretinhas de lamúrias, enquanto Nefertiti diz: “Calma, minha filha... Temos a eternidade!...”
Cansei da eternidade, rainha. Do fundo da minha cripta escura, espio com inveja os felizes efêmeros banhados pelo dia.
Espero encontrá-los no Vale dos Reis.
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