18 de novembro de 2006

auto-retrato

Eu pensei que a vida fosse tão bonita
Quanto um quadro de Van Gogh.

Que o jardim de íris existisse de verdade,
Num lugar que eu iria conhecer um dia
Apesar da flor branca,
No meio de tantas azuis.

Que aquele quase choro que vi suspenso
Bem no olho do retrato,
Tão sentido da incompreensão do mundo,
Poderia ser de pura alegria.

Que os girassóis enlouquecidos de medo
Brincavam de ser fogo vivo
Para fugir do escuro que não são
Ao crepitar de calor.

Que os tentáculos do céu estrelado
Viriam acariciar os ciprestes apontados
Que ali desenharam cometas
Em convulsão de galáxias.

Que os corvos voariam para muito longe
Sumiriam para sempre no horizonte lilás
E os campos de trigo brilhariam novamente
Como o sol do meio-dia.

Eu pensei que a vida fosse tão bonita
Quanto um quadro de Van Gogh.

E ainda quero acreditar
Que não me enganei.

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