29 de dezembro de 2006

o morcego








(Dessa vez, com a empáfia de parodiar Augusto dos Anjos. Desculpo-me de antemão. Mas foi inevitável.)

Quase meia-noite. No quarto de tevê, sono puro.
Meu Deus! E este morcego! Agora, olha isso:
Atravessou de um lado para outro, preciso,
Rodopiou pelo teto e sumiu no corredor escuro.

Não me mordeu a goela nem nada assim sensual
Que fosse vampiro, fantasiei com vontade,
Na bruta ardência orgânica da sede...
(Ando vendo tevê demais; melhor mudar de canal).

Cadê ele? – Digo – Ergo-me animada!
Vou com o gato, de lençol na mão, caçá-lo.
Empurro móveis, o olho arregalo,
Entro nos quartos, procuro, procuro e nada!


Ele não sabe que quero ajudá-lo... Chego
Bem perto. Lindinha bate um papo. Ele se senta,
Faz amizade, ri muito e diz que, de medo, está farto!


"A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra,

Imperceptivelmente, em nosso quarto!"

Um comentário:

Anônimo disse...

Sensacional!