10 de setembro de 2006

inquisição

O gato me observa.

De vez em quando ele faz assim. Escolhe um bom lugar, senta-se diante de mim e estático fica, como uma escultura egípcia, de olhos arregalados, a me perceber, com sua sutil sensibilidade felina.

Gato, para com isso.

Sinto-me inquirida. Que é que você quer com esse olhar azul? Tem ração. Tem agüinha. Tem leite. Tem ratinho de brinquedo. Tem cadarços. Tem poltrona de tecido. Tem quentinho. Tem novelo. Tem bola de papel amassado. Tem janela aberta. Tem graminha. Tem caixa. Tem armário. O que mais um gato pode querer, pergunto.

Fala!

Ele pisca uma vez ou duas. Considera. Analisa. Ameaça soltar uma ironia. E permanece ali, a me hipnotizar. Ah, esqueci de dizer: o gato é fêmea.

Não me assusta não.

Dizem que o gato vê o outro mundo. Ou um outro mundo, na perspectiva flexível daquele que é capaz de sempre, sempre cair de pé.

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